domingo, 19 de novembro de 2017

A última consulta do ano

Sexta tive a ‘última consulta’. Depois de quase 5 meses de sintomas eu sinceramente esperava notícias melhores. Antes de ir pra Portugal eu vim passar uns dias nessa ponte Rio-SP pra que pudesse resolver problemas de visto e viajar com tratamento ajustado, relatórios médicos, e tudo mais que fosse preciso pra continuar meu tratamento fora. 
As vezes as pessoas esperam que a gente agradeça, seja otimista, ou sei lá o que. Por muitas vezes nesse processo eu perdi a paciência em ouvir coisas como: mas podia ser pior, Mari. Eu sei que sempre as intenções são as melhores, e não sei se posso falar por todos os autoimunes do mundo, mas jamais diga isso pra quem acabou de receber as notícias que não esperava. Sempre que passo pelas minhas consultas eu entro tendo certeza que vou receber as melhores notícias; então não, não podia ser pior. O processo todo é muito complicado e parece que tentamos nos vitimizar, mas as notícias ruins são sempre avassaladoras, por menores que pareçam ser.
O meu tratamento hoje está assim: eu tomo corticóides (atualmente 20mg), vitamina D, cálcio, potássio, e azatioprina (que é um imunossupressor que ‘controla’ meu sistema imune para evitar o aparecimento de novas crises), e rivotril (que me ajuda na ansiedade, no sono, e nas tonturas). Meu status atual: ainda sinto tonturas, a diplopia já não é das piores, e minha ataxia ainda me incomoda, e muito. Eu levanto e a perna trava, a mão fica boba, derrubo as coisas, esbarro, quase um Parkinson temporário. E eu me esforço muito pra que isso não seja perceptível aos olhos de ninguém. Sei que não deveria, mas eu tenho vergonha principalmente desse sintoma. 
Entrar na fase do desmame tem me dado algumas baqueadas, como se o corpo tivesse se tornado dependente. As minhas más notícias foram que eu ainda vou enfrentar 6 meses de corticóide, isso é mais tempo do que eu tomei até agora. São tantos efeitos colaterais que isso me deixou triste. Segundo a médica, nessa dosagem baixa há o maior número de reincidências dos surtos, então o desmame nessa fase tem que ser muito lento. Inchaço, pêlos aumentados no corpo e rosto, acúmulo de gordura (principalmente abdominal), cansaço exagerado, e o rosto redondo me incomodam, muito. Alem disso tem as cãibras, manchas roxas (muitas e muitas); e sei que no final parece tudo muito estético, mas cada um com seus problemas né? 
E os sintomas do surto? Bem, tecnicamente eu não estou mais em surto, isso significa que as lesões não estão mais ativas, mas agora os sintomas ainda existem como consequência da lesão que eu tive e meu corpo ainda está se recuperando delas. De todas as notícias, a única boa é que não tenho sequelas, ou seja, tudo vai sumir; a ruim é que segundo a médica a probabilidade é que ainda demore muito mais pra que eu não sinta mais nada.
Saldo final: sintomas que incomodam, somados a um monte de efeitos adversos de um medicamento que ajuda, mas também atrapalha, tem me dados uns dias ruins. Sei que no final tudo passa, mas eu me permito passar pelos dias difíceis também; tenho me permitido viver tudo. Ainda que eu agradeça todos os dias a Deus pela chance de poder me tratar, de ter pessoas ao meu lado, de receber tanto apoio, ainda posso ser considerada egoísta por reclamar também. Eu não cheguei ainda nesse nível de evolução, mas estou tentando.
E continuo aqui, vivendo um dia por vez, e reclamando, e tentando melhorar. Essas coisas que ser humano tem.

Beijos, Mari.

segunda-feira, 13 de novembro de 2017

As mudanças

Eu não tenho conseguido ser frequente nesse meu projeto blogueiriane, muitas coisas tem acontecido.
Quando eu entrei no meu último surto, eu decidi que nunca mais ficaria longe de um médico que pudesse atender minhas necessidades; acho que essa foi uma das maiores dificuldades. No Acre, onde moro atualmente, não existem neurologistas que entendem ou conhecem o que eu tenho. Muitas vezes precisei tomar decisões sozinha, ou resolver coisas pelo telefone com minha médica, ela foi muito maravilhosa, pois muitas vezes precisa haver um contato, um exame, e quase sempre ela me instruiu sem saber de fato saber o que acontecia, apenas com meus relatos de paciente reclamona.
Depois das minhas férias eu decidi que só terias mais 45 dias de Acre. Que eu sairia daqui (mesmo ainda sem saber pra onde) de qualquer jeito. Mas Deus sempre nos atende e nos encaminha; e eu, que tinha um projeto de fazer mestrado em Portugal, resolvi retomá-lo. Algumas pessoas diante de certas dificuldades se tornam medrosas, cautelosas; eu fiquei corajosa (e apressada) até demais. Então o fato é que fui atrás desse sonho, e ele tem dado certo até então. Daqui dois dias deixo meu Estado e minha família (pais e irmão), sinceramente só está doendo deixá-los e alguns bons amigos que tenho aqui a vida toda.
Resolvi que realizar meus sonhos era agora minha prioridade, a qualquer custo. A doença não vai me matar, não corro risco de morte, mas a impressão que tenho é que não posso mais deixar de viver nada que sentir vontade, desde que me traga benefícios.
Esse projeto de mudança apressada tem me deixado sem tempo. Com certeza 2018 será um ano que vou conseguir me dedicar a esse projeto que acredito ter tanta importância e utilidade.
Sexta tenho médico, quando tiver novas respostas, escrevo contando mais sobre a evolução das coisas.
Torçam por mim.
Beijos, Mari.

E aí Mari, como é morar em Portugal? FINAL HAHAH

Tenho percebido que as pessoas tem visto Portugal como 'o Eldorado', como o lugar mais maravilhoso e perfeito. Meus posts têm bem e...