domingo, 24 de junho de 2018

E aí Mari, como é morar em Portugal? (parte 2)

Talvez esse post tenha umas 50 partes.
Hoje eu não vou falar de Portugal, especificamente.
Eu sempre me considerei uma alma livre, totalmente desapegada. Quem me conhece sabe disso.
Morei muito tempo fora de casa, dos 17 aos 25. Nunca tive problemas. É claro que os problemas de saudade sempre estavam lá, e ao final de tudo eu sabia que podia pegar um avião e correr pra casa.
E os brasileiros podem ter todos os defeitos do mundo, mas eles fazem sempre você se sentir em casa.
Acho que passamos muito tempo procurando pelo problemas, sem procurar as coisas boas. E temos ainda um defeito que é aquele velho dar valor apenas quando perdemos.
Mudar de país me fez reafirmar convicções que eu tinha, e mudar de idéia quanto a outras coisas que SEMPRE acreditei.
Eu sempre tive um problema com meu estado, nunca fui bairrista. Sempre achei as coisas atrasadas, complicadas, e continuo achando. Mas estando aqui agora, eu sinto saudade todos os dias do aconchego de lá. Das coisas que comia, das pessoas que conhecia, das rotas, das rotinas; de entender o funcionamento, de saber pra onde ir, como ir, o que esperar. Eu só descobri o tanto que amava isso (quando achava odiar) quando vim pra cá.
Eu sempre falo com muito drama sobre essa minha experiência, e tenho certeza que todo mundo que ouve de fora acha que pode ser um exagero.
Estar em outro país demanda muita maturidade, pelo menos pra nós, brasileiros, que fomos criados pra ser rodeados de pessoas, e gestos, e tudo. Deixo claro que certamente existem pessoas com outras experiências, mas essa é a minha.
Essa experiência tem sido uma crueldade com meu coração frio. Eu gostaria de ser das pessoas que sentem saudades, ligam, choram.
Eu sinto saudades e me escondo, pq o contato me faz desmoronar todo o castelo de segurança que eu tento construir.
Mudar de país é se sentir sozinho mesmo com tantas pessoas ao redor. É não saber o que esperar das pessoas, é perder seu escudo natural quando as coisas não saem como você espera; e desmoronar. É quase como uma TPM eterna, aquela em que quando te chamam de feia você chora, chora e chora.
Muito sinceramente meu saldo tem sido negativo. Estruturalmente é tudo muito lindo e seguro e maravilhoso. Emocionalmente? Mais vale as pessoas da sua cidade pequena, falando mal da sua vida, mas pelo menos se esforçando pra que você nunca esteja sozinha no meio da multidão.

Beijos, Mari.

quinta-feira, 21 de junho de 2018

E ai Mari, como é morar em Portugal?

Quando eu for menos tímida, eu vou fazer um vídeo sobre isso.
Por enquanto eu vou escrever. Eu recebo muito essa pergunta. Quase que diariamente alguém me pergunta, querendo criar coragem pra mudar, e eu acho que acabo desanimando as pessoas (hahaha).
Até hoje eu achava que estava sendo ingrata com essa oportunidade, mas hoje eu vi um vídeo de outros brasileiros que moram aqui também, e concluí que eu estou sendo apenas realista.
Algumas pessoas quando mudam ficam muito deslumbradas. Não aconteceu comigo.
A verdade é que mudar do país, emocionalmente falando, não é nada fácil.
Eu fiquei meses fazendo contas, e achando que isso seria o paraíso. Esqueci de fazer as contas emocionais.
Portugal é lindo. Eu amo essa sensação de viver em filme; de pegar o ônibus e ver uma paisagem linda, todos os dias. Amo a idéia de morar num país menor que meu estado, e ter coisas incríveis pra conhecer.
Adoro saber que vou ralar uns anos na faculdade, mas vou ter um diploma europeu e vou ter meu título de mestre, que tanto sempre quis.
Mas houveram muitas coisas sobre as quais não pensei, e sobre elas eu vou falar agora.
1) O frio: eu mudei em pleno inverno. E sempre ouço as pessoas dizendo: Nossa, eu amo o frio. A não ser que você seja do sul, eu não aceito sua justificativa (kkkkk). Os dias começam quase 9 da manhã, escurecem as 16. Você mal anda, a roupa mal seca, tem que acordar cedo, tomar banho, sair da cama. É uma tortura que dura meses a fio. E gente, esse Porto chove toda a água do mundo no inverno. Não é chique, nem bonito, nem confortável. Nem os europeus gostam. As pessoas andam tristes. O mais engraçado é notar a mudança de humor quando o calor começa a aparecer.
2) Facilidades: eu achei que o Brasil era burocrático, até que mudei pra Portugal. GENTE. GENTE. Pra quê? Eles complicam tudo que podia ser fácil. Desde o aplicativo do banco ao processo de qualquer coisa na faculdade. Outro problema nas facilidades. Portugal não é feito o Brasil, que você encontra loja de tudo a toda esquina. Por incrível que pareça, não tem muitas opções de produtos, cosméticos. A gente acha? Acha! Mas fica ali naquela loja maior que fica a mil km de distância da sua casa. Uma farinha de arroz que tem em qualquer mercado do Brasil, aqui as vezes você só encontra na loja online do mercado 'x'. Ai, como eu sinto saudade daquelas farmácias cheeeeeias de tudo (lágrimas...);
3) Preconceito: eu sempre via vídeos, e as pessoas diziam desse preconceito, e eu achava que ia tirar de letra; pura ilusão. Falando de Portugal, algumas pessoas acham o Brasil o lugar mais incrível e amam os brasileiros, e outras viram os olhos só de ouvir você 'falar brasileiro' (sim, pq aqui não falamos português, falamos brasileiro).
O preconceito existe. Me deparei inúmeras vezes com pessoas falando mal dos brasileiros. Somos taxados de burros, enrolões, ladrões; e a mulheres? todas putas. Eles não são mal educados o suficiente pra falar na sua cara, mas somos um assunto recorrente, então é muito comum sentar em algum lugar e ouvir uma mesa de portugueses falando mal dos brasileiros. É mais comum ainda ver o tratamente mudar quando descobrem que você é do Brasil. Em certa parte somos culpados. Tem muita gente malandra por aqui; mas tem muita gente trabalhadora e esforçada e inteligente e eu odeio a falta de chance de mostrar quem sou, pois já fui julgada pela minha nacionalidade. É difícil as vezes ter um lugar ao sol.
Eu tenho muitas coisas boas pra falar, mas eu gostaria de antes ter pensado nisso.
Estar num país diferente, com pessoas, que apesar de falarem sua língua, pensam diferente.
Eu mudei, tive todos os choques ao mesmo tempo: estar longe, sozinha, no inverno, começando uma faculdade muito puxada, com um sistema de ensino pesado, sofrendo preconceito (quero deixar claro que existem pessoas incríveis aqui, mas o preconceito que existe, é recorrente e incomoda). Parece que a doença ainda deixa as coisas piores, o cansaço triplica, a tontura também... há de haver algum equilíbro. Eu mesma já quis correr por aeroporto e jogar toda essa m@43da pro alto. Mas tem que respirar fundo e pensar mais um pouco na frente.
Portugal tem sido 'abrasileirado' cada dia mais, mas eu ainda acho que existe um pequeno vão entre o que somos, e o que os portugueses são. Algumas coisas admiro e amo, outras nem tanto.
No próximo post eu conto sobre o outro lado da história. Se tiverem dúvidas específicas me mandem. Eu tento responder num outro post.
E minha amiga tem estado bem, não tem me atrapalhado muito. Só me deixa cansada todos os dias como correr 20 maratonas, mas eu ainda consigo perdoá-la por isso (isso também é assunto pra outro post).
Prometo que quando meus exames acabarem eu voltarei a ser uma blogueira decente.


Um beijo, Mari.


quinta-feira, 14 de junho de 2018

De cara nova!

Esses últimos seis meses foram um caos!
Voltar pra faculdade não é muito fácil, e sem desmerecer o meu país, as coisas aqui são muito mais pesadas.
Eu tenho passado por esse período de adaptação e o blog ficou de lado. Ficou de lado pela minha falta de tempo e também porque eu comecei a pensar sobre não querer apenas falar da minha doença. Tenho muito mais a dizer.
Pensei em mudar o nome do blog, pra que me desse essa liberdade. Mas também depois pensei que não. Ele continuará sendo meu diário, e eu continuarei sendo autoimune, haha.
Dessa forma, o post é pra dizer que talvez as coisas mudem um pouco de rumo. Mas sempre vou atrelar minhas experiências à minha amiga, afinal, ela está sempre aqui ditando as regras.
No meu próximo post vou falar de Portugal, muitas pessoas me perguntam como vim, como são as coisas por aqui, e quero falar da minha experiência nesse novo país.
Espero que gostem das mudanças.

Um beijo,
Mari

E aí Mari, como é morar em Portugal? FINAL HAHAH

Tenho percebido que as pessoas tem visto Portugal como 'o Eldorado', como o lugar mais maravilhoso e perfeito. Meus posts têm bem e...